quarta-feira, 29 de junho de 2011

* GIL MARÇAL: E A DIVERSIDADE

Assistiamos na tv ao show de calouros, eu tinha 8 anos, apareceu na tela um homem vestido de mulher e com algumas roupas muito extravagantes. Dava umas puxadas nos tecidos e a roupa virava outra. – Erik Barreto, anunciou Silvio Santos, É o vencedor desta noite!

No dia seguinte, apesar de saber que as pessoas não aprovavam um homem vestido de mulher, pela primeira vez me transformei, virei outra. Usava os vestidos e combinações da minha irmã, com as maquiagens da minha mãe. Todos os dias a tarde eu ficava sozinho, por que todo mundo ou estava trabalhando ou estudando e só as paredes daquela casa poderiam narrar cada descoberta que fizemos em conjunto.
Depois descobri a Madonna. Assistia diversos programas, só para que quando os clipes dela fossem exibidos satisfizessem minha necessidade de vida. Tava ensaiando algo pop. Naquele momento eu sabia o que eu queria fazer da minha vida. – Eu queria ser a Madonna!!!
Foi no meio de um show da Madonna que as portas se abriram e meu irmão me olhou com a cara mais apavorada do mundo, parei de dançar e antes de eu começar a pensar em sumir, desisntegrar-se no Céu com purpurina, tomei o primeiro soco na cara, que já me deixou no chão e passei a tomar chutes em todas as partes do corpo e ele gritava:
- Quer ser mulherzinha? É bichinha. Quer da o cú? E se a mãe te visse assim? Você é homem seu viado.
Esta frase “você é homem seu viado” entrou na minha cabeça e a surra ficou apenas no segundo plano naquele momento. Apanhar ou não, não fazia mais diferença, afinal eu já estava apanhando mesmo. É claro que pra ser viado, tem que ser homem, e muito.
Enquanto trocava de roupa ele me disse:
- Vou nem contar pra mãe, pra não matar ela dessa vergonha, que é você! Uma aberração. E sobre essas marcas diz que apanhou na rua, mas também pode ficar a vontade pra contar a verdade.
Eu, decidido a contar a verdade à minha mãe, apanhei mais uma vez! Naquela noite até decidi ser homem “normal”. Mas meu bem, basta um calorzinho que milho, vira pipoca e um dia a tampa tem que descobrir a panela.

Erick Barreto e Silvio Santos

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